Logo chegou o momento de interrogar as duas Manilow. Angela me avisou elas estavam aqui e pedi que entrassem.
- Muito bem, srta. Manilow.
- Rose, por favor.
- Ok. Muito bem, Rose, conte-me tudo que sabe e tudo que viu.
- Eu faço faxina pro pessoal do bairro, sr. Rocket, e achei que alguém tinha me indicado, não sei. Bom, anteontem eu cheguei em casa no fim da tarde e após o banho, já estava cochilando, quando o telefone tocou. Era o John Keats.
- Como era a voz dele?
- Grossa, mas meio fanhosa. Vai ver tava gripado, parecia estar.
- Prossiga, o que ele disse?
- Que queria que eu fizesse faxina no aquário na noite do dia seguinte, e que deixaria a chave e o dinheiro na caixa de correio.
- E você não achou isso estranho?
- Achei sim, sr. Rocket, mas a vida não tá fácil, e não posso negar cliente porque é estranho.
- Claro, claro. Continue.
- À noite vi que a chave estava lá e o pagamento também, e fui à loja, que fica a quatro ruas da minha casa. Quando abri a porta, vi... a... o sr. sabe, a...
- A moça.
- É, é. E saí correndo pra casa, deixei tudo escancarado, e tava chorando alto. Corri pra minha mãe, e ela ligou pra polícia, que pediu que eu voltasse ao aquário. E aí o sr. sabe.
- O sr. Keats não voltou a entrar em contato, não é?
- Não, não. E eu deixei a chave com o policial.
- Bem, eu agradeço a colaboração de vocês. Se precisar, voltarei a ligar. E me procure caso lembre de algo.

Nenhuma novidade.

Eu tinha pedido a dois policiais que já trabalharam comigo que interrogassem as pessoas, cada um na região de um crime, e que me avisassem caso encontrassem algum fato importante, encaminhando a testemunha para a delegacia, onde eu a interrogaria novamente. Então, um dos dois me telefonou:
- Paul!
- Boas notícias, Jones?
- Encontrei um cara que conhece o Dennis Brown que deixou impressões no quarto.
- Sério? Traga-o pra cá agora!
- Talvez o sr. prefira logo investigar a pista quente que ele deu.
- Qual?
- Um possível endereço do suspeito.

Anotei o endereço e já estava me preparando para ir ao local, quando Charles me ligou.
- Paul, relato preliminar da perícia: a outra garota morreu no domingo, não foi? Pois essa está morta desde a noite de sexta!
- Sexta?? Bom Deus!!
- Decididamente o assassino deve ser o mesmo. As mortes são semelhantes. Estava viva quando abriu o abdômen da mesma forma. E tudo indica que a mesma substância a matou, pois já identifiquei degradação do fígado.
- E o Joe?
- Na mesma. Só impressões da própria garota. Ele já está tentando identificá-la, qualquer coisa ligamos.
- Ok, Angela vai falar com você sobre nosso quartel-general. Até mais, Charles.

O assassino não parece cometer erros. Mas vamos ver se o sr. Brown fornece pistas melhores.

Já era quase meio-dia quando saí de carro acompanhado por um policial para ver se encontrava o sr. Brown.
O endereço era num bairro afastado, na periferia da cidade.
O policial estacionou em frente a um pequeno cortiço, com vários aglomerados de casas e quartos alugados. Descemos do carro e batemos numa porta suja. Dela surgiu uma senhora gorda com vassoura em mãos.
- Que é?
- Reside aqui um senhor Dennis T. Brown?
- Sim, mas ele num tá não. Tem uns dia que num aparece.
- Somos da polícia e queremos olhar o quarto dele, algum problema?
- Ele robô neguinho por aí?
- Não, minha senhora, só queremos conversar com ele e vistoriar seu quarto.
- Vô pegá a chave.
A senhora sumiu alguns instantes, nos deixando na porta, e voltou, sem a vassoura e com um molho imenso de chaves na mão.
- Como a senhora se chama?
- Mary. Vamo, é por aqui.
Então ela nos levou a um portão do lado direito da casa, o abriu e nos fez entrar. Era um corredor largo, com um pouco de lodo e musgo no chão, e paredes degradadas pela umidade. No teto tinha algumas vigas curvas de cimento, e ramificações de plantas se enroscando pela parede, demonstrando que aquele lugar talvez um dia já tenha sido belo e agradável.
Ao lado esquerdo tinha uma porta, e eu já estava me dirigindo a ela, mas a senhora Mary seguiu adiante, até um portão baixo de madeira. Empurrou-o bruscamente e nos vimos numa área mal-cuidada, com muito mato, ervas daninhas, e algumas belas flores contrastando com a paisagem. No fundo tinha uma larga porta de madeira, parcialmente bloqueada por uma antena caída.
A senhora Mary enfiou uma chave antiga na porta e a abriu, empurrando com dificuldade.
- Ceis pode olhá a vontade aí, depois me chama na porta preu fechá.
- Obrigado, senhora Mary.
Adentrei na escuridão do recinto, disposto a descobrir que mistérios estavam por trás do sr. Brown.


(inspirado na imagem acima)

0 comentários:

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial