Eram 9:30 quando cheguei ao local. Parecia um dia como os outros, mas assim que abri a porta e pus meus olhos naquela escada, eu soube que este seria diferente. O ambiente cheirava a mofo, talvez devido às infiltrações das paredes. A escada parecia não ter sido lavada na última década. Mas nenhum destes fatores foi o que me alertou para a estranheza que o dia me traria. Esta aviso ficou a cargo da minha intuição.
O dia começara normalmente. Despertei às 6:15 com o som. Não exatamente com uma música tocando. Apenas com o girar da bandeja dos cds para posicionar o cd escolhido no leitor e iniciar a melodia. Mas antes mesmo de tocar, eu já o desligara, para não acordar a Suzie. Suzie é minha esposa. Somos casados há oito meses e namoramos um ano antes do casamento. Ainda houve um período de seis meses no qual fui um apaixonado devoto e precisei conquistá-la passo-a-passo.
Tomei um banho morno, vesti-me para o trabalho e então fui acordar a minha bela adormecida. Suzie tem dificuldades para se levantar e se eu não ajudá-la, é capaz de ficar na cama mais uma ou duas horas e perder o início do expediente. Como todos os dias, a descobri, dei um beijinho em sua testa e ela só resmungou:
- Hmmm?
- Bom dia, amor.
Não houve resposta. Em alguns dias era mais difícil. Apoiei meu braço debaixo de suas pernas e por trás das costas e a ergui. Ela passou os braços no meu pescoço, apoiou a cabeça no meu ombro e permitiu que eu a levasse. Carreguei-a até o banheiro e a coloquei de pé. Sua cabeça ainda baixava, zonza de sono. A despi e a arrastei até debaixo do chuveiro, para só então poder abrir o jato d'água e fazê-la despertar adequadamente.
Enquanto Suzie tomava seu banho, espremi algumas laranjas, assei quatro fatias de pão integral com manteiga e piquei uma banana em cada tigela de iogurte com granola. Então, Suzie apareceu, já vestida e totalmente desperta.
- Bom dia, Paul.
E me deu um selinho.
Tomamos nosso café tranquilamente e saímos de casa às 7:30, no nosso carro. Suzie dirigia e me deixava no trabalho, para só então ir para o dela. Tentamos fazer o contrário algumas vezes, mas meu horário é meio maluco e é melhor que ela fique com o carro para poder voltar na hora que achar mais adequada. Suzie trabalha em uma empresa de software. Eu sou detetive de um distrito policial.
Raramente faço uso de farda ou armas. Ando à paisana e apenas investigo os problemas.
A secretária me recebeu efusivamente:
- Sr. Rocket, sr. Rocket!! Ainda bem que o sr. chegou!!
- Calma, Angela. Fale devagar e diga qual o problema - repliquei, enquanto sentava na minha mesa e ligava o computador para ver as notícias do mundo.
- Um assassinato misterioso. O corpo foi encontrado nessa madrugada. Os policiais o aguardam no local do crime.
- Ok, pode ir.
Abri meus e-mails calmamente, enquanto acessava as notícias em outra aba do navegador. Tinha um boletim do caso me aguardando na caixa de entrada. Um prédio estreito, de três andares, num bairro afastado. Nenhum suspeito. Pensei tratar-se de algo comum.
Após alguns minutos, chamei um policial, que foi comigo na viatura para o lugar. Havia trânsito e levamos algum tempo. Outro policial, que nos aguardava, me relatou mais alguns detalhes e então às 9:30 abri a porta e me deparei com a escada.
Uma senhora de idade, moradora de um apartamento no prédio vizinho, ouviu gritos e deu parte na delegacia. Os policiais arrombaram porta a porta até encontrarem o que parecia o único quarto ocupado do prédio. Encontraram uma garota estripada no lugar. Não havia ninguém além do cadáver e a chave estava na fechadura, que parecia ter sido trancada por dentro. Os policiais não sabiam como proceder, dessa forma isolaram o local e aguardaram a minha chegada.
Subi calmamente as escadas, entrando em cada aposento. Todos estavam vazios, exceto o último, no segundo andar. Era um grande cômodo. No canto direito havia uma cama antiga embaixo da única e pequena janela. Logo ao lado, um armário de madeira roída por cupins, e bem no meio do lugar, uma mesa e duas cadeiras. Na extremidade esquerda, uma pia com pratos e copos sujos e baratas rondando. Havia uma pequena porta, que logo constatei tratar-se de um banheiro imundo.
Por trás da mesa, no chão, estava a vítima. A garota usava um all-star preto, meias um pouco abaixo dos joelhos e uma saia preta e rosa, que terminava onde as meias começavam. Da cintura para cima ela estava despida. Um rápido exame visual não me permitiu encontrar nenhum vestígio do resto de suas vestes. A garota era jovem, talvez 16 ou 17 anos, e tinha cabelos negros e lisos pouco abaixo dos ombros. Seus olhos negros estavam abertos, com uma curiosa expressão calma.


(inspirado nas imagens acima)

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