Se o gato preto podia entrar, alguém podia sair. Corri para o quarto do primeiro andar e encontrei o gato aninhado num canto, com um rato na boca. Não havia luz no ambiente. Olhei ao redor e nada encontrei de interessante. Então tive uma idéia. Subi as escadas novamente e comecei a tatear o chão por toda parte. Pedi uma lanterna fosforescente a Joe e olhei debaixo da cama. Havia um quadrado com menos poeira que o resto. Pus nele minhas mãos e descobri um alçapão para o quarto do primeiro andar. Eu tinha achado a rota de fuga do nosso assassino.

Eram quase 19:00 quando Suzie me telefonou:
- Paul, tou saindo agora, quer que eu te pegue em algum lugar?
- Não, querida. Tou num caso meio complicado, vou demorar mais um pouco. Os rapazes vão me deixar, tudo bem?
- Claro, amor. Cuide-se! Beijo.
- Beijo.

Perguntei a Charles quando ele podia me dar o resultado da causa da morte e ele disse que provavelmente na manhã seguinte. E pedi a Joe para tentar identificar a garota, de forma a podermos avisar a família e investigar seus últimos passos. Descemos todos a escada, a dupla foi embora no furgão da perícia, e eu fui na viatura com o policial. O outro policial ficou aguardando um terceiro chegar para fazer a segurança noturna do local do crime.
O policial estava indo me deixar em casa, após eu decidir que era melhor pensar no dia seguinte, com a cabeça fresca, quando meu telefone tocou.
- Paul Rocket?
- Ele mesmo.
- Policial Jones. Um cadáver foi encontrado e me informaram na delegacia que o senhor deveria ser chamado ao local de crime, pois poderia lhe interessar.
Desta maneira, desisti de ir dormir cedo e pedi ao policial que me levasse ao endereço passado no telefonema.

O endereço era de uma loja de aquários. Quando a viatura parou, pude ver um policial e uma moça abraçada a uma senhora, aparentemente chorando.
- Você é o policial Jones?
- Sim, sr. Rocket.
- O que aconteceu?
- Vou relatar o que a garota me contou, pois ela está muito nervosa. O sr. conversa com ela depois, se achar necessário.
- Ok. Conte o que ela disse.
- Ela é faxineira, e recebeu ontem o telefonema de um tal de John Keats que queria que ela fizesse uma faxina na sua loja de aquários.
- John Keats? ... Ok. Prossiga.
- Então o cara disse que a chave estaria na caixa de correio da casa dela hoje à tarde, junto com o pagamento, em um envelope. Que ela deveria fazer a limpeza no turno da noite, e que deixasse a chave na caixa de correio novamente, após terminar.
- Como a garota se chama mesmo?
- Rose Manilow, e essa é a sua mãe, a sra. Manilow.
- Ok, e o que aconteceu?
- A garota veio fazer a faxina, e quando abriu a porta, se deparou com a cena que o senhor vai ver quando entrar, voltou para casa desesperada e sua mãe telefonou para nós.

Entrei então no lugar, e vi o aquário. Um imenso aquário, talvez cinco metros de comprimento, dois de largura e dois de altura. Estava cheio de água, e na parte de baixo tinha alguma vegetação e pedras. O aquário era fechado na parte superior, de forma que não havia maneira de entrar ou sair algo maior do que duas aberturas circulares de dois centímetros de diâmetro, em extremos diferentes da parte de cima, vedadas por tampas de plástico. Dentro do aquário, o cadáver de uma garota, sendo rodeado por peixinhos ornamentais vermelhos. A garota era branca, e tinha os olhos abertos, novamente com uma expressão serena. Estava despida, à exceção de dois braceletes, e seu ventre estava aberto, com alguns órgãos expostos.
Entendi imediatamente porque eu tinha sido chamado. Além de ambas as vítimas terem sido estripadas, na face direita dessa vítima era possível perceber parte de uma mensagem em sangue, agora coagulado. Uma mensagem que, pelo que pude perceber, era muito semelhante à da testa da primeira vítima.
O assassino já podia ser considerado serial. E sua perspicácia me desafiava. A forma como escondia seus passos. Eu tinha certeza de que impressões não seriam encontradas. E suspeitava que o sr. Brown não teria nada a ver com a história, sendo apenas uma isca.

Telefonei imediatamente para a delegacia. Angela não estaria mais lá, mas eu solicitei assim mesmo que, se possível, entrassem em contato com Charles e Joe, pois eu precisava dos resultados da perícia desse novo crime cedo da manhã.

Dei uma olhada na loja. Não tinha dinheiro em caixa, e tinha alguns aquários pequenos, todos vazios. Numa estante, algumas latas de comida para peixes. Tinha um banheiro, não muito sujo. Todo o lugar estava apenas levemente empoeirado. O grande aquário estava no meio da sala. Atrás da mesa do caixa, encontrei algumas ferramentas, possivelmente utilizadas para construir aquários. O lugar não tinha janelas. Assim como a blusa da primeira vítima, as roupas da garota não foram encontradas em parte alguma.
Este assassino não gostava muito de deixar pistas... Eu estava diante do maior desafio da minha não muito longa vida profissional.


(inspirado na imagem acima, sugerida por Lucas Altamar)

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