A Princesa de Limão

Era uma vez, em uma terra muito muito distante, um ensolarado e colorido lugar chamado Reino de Limão. Era um reino pacífico, governado por um Rei bondoso, e que era muito amado por todos os habitantes, um lugar onde as pessoas eram felizes. O Rei era viúvo, mas tinha uma filha, a Princesa de Limão.
A Princesa de Limão era a mais bela dama de todo o reino, e sua voz era comparável a dos mais afinados pássaros. Os habitantes adoravam vê-la cantar e sempre que havia ocasiões sociais, seu pai pedia que cantasse uma bela canção. A voz da Princesa era tão majestosa que trazia alegria instantânea àqueles que a ouviam.
Mas o Rei de Limão tinha um irmão, e esse irmão tinha o coração corrompido pelo mal, e não aceitava que seu irmão mais novo tivesse herdado o Reino, ao invés dele, que era o primogênito. Quando do nascimento da Princesa, o irmão do Rei, ao visitar o bebê, num momento em que ele estava a sós com a mãe, que estava enferma, lançou-lhe uma maldição! Disse que quando ela completasse 18 anos, seu coração se encheria de tristeza e nunca mais poderia ser feliz. Mas, quando dos aposentos se retirou, a Rainha, que mesmo enferma tinha ouvido tudo, usou seu último sopro de vida para amenizar a maldição, permitindo que a tristeza no coração da Princesa pudesse ser quebrada caso um amor verdadeiro surgisse e a conquistasse.
A Rainha naquele dia faleceu e nunca ninguém soube dessa maldição até que chegou o aniversário de 18 anos da Princesa. O Rei mandou organizar uma grande festa, mas, quando os relógios badalaram meia-noite e a Princesa deveria descer as escadas do salão, agora com 18 anos, e cantar uma de suas belas canções, ela não apareceu.
Preparava-se para entrar no salão e, enquanto ouvia o badalar da hora, sentiu um vazio tomar conta do seu corpo e foi acometida de uma profunda tristeza, que lhe fez perder as forças.
A festa foi cancelada, os habitantes do reino ficaram preocupados com o que poderia ter acontecido à bela Princesa, e o Rei não sabia o que fazer. A Princesa não tinha vontade de fazer nada. Só queria ficar deitada em sua cama. Não sentia vontade de comer, e muito menos de cantar.
Passou-se uma semana e a voz melodiosa da Princesa não tinha sido novamente ouvida. O Rei não conseguia dormir. A angústia com esse problema era imensa. Amava a filha mais do que tudo e seria capaz de qualquer coisa para reaver a felicidade dela, poder ouvir sua voz harmoniosa novamente. Então, seu irmão pediu para lhe visitar e revelou-lhe de sua maldição. E pediu-lhe o Reino de Limão em troca de desfazê-la. O Rei quase aceitou o acordo, mas solicitou uma noite para pensar. A felicidade da Princesa era mais importante que ser Rei. Mas não podia deixar as pessoas do Reino sob o governo de uma pessoa terrível, como o era seu irmão. E assim passou a noite pensando no problema. Até que, em um cochilo, sonhou com sua esposa, a Rainha, e ela lhe revelou a verdade sobre a maldição, e que ele deveria encontrar um verdadeiro amor para a Princesa.
Então o Rei de Limão mandou que pregassem cartazes por todo o Reino à procura de pretendentes. No dia marcado, o Rei mandou que embelezassem sua filha, que a essa altura tinha o rosto pálido e magro e olheiras sem tamanho, tal era sua dificuldade para dormir. Quatro aias do castelo se uniram e com toda a sua habilidade, a fizeram parecer novamente uma Princesa, exceto por um detalhe: a ausência de um sorriso.
O Rei sentou-se em seu trono, com a Princesa ao seu lado, e mandou que fossem entrando, um por um, os pretendentes. E assim começou um longo dia, em que lordes e príncipes, reis e sultões, entraram, um a um, no salão do castelo e fizeram a cortesia à princesa. Alguns tentaram impressionar-lhe com presentes. Outros com belas canções. Ainda alguns com apresentações de humor. Mas a Princesa não esboçou um único sorriso durante todo o dia.
O plano do Rei dera errado e o amor verdadeiro não surgira.
Dia após dia, a Princesa definhava. Parecia destinada a morrer de tristeza.
Quando criança, a Princesa brincara com o filho de sua ama-de-leite. Os dois corriam pelos verdes campos do Reino e aprontavam com todos. Mas então a Princesa teve que estudar com grandes mestres do saber e não teve mais tempo para seu amigo. O garoto, de origem humilde, tornou-se um rapaz e nunca esqueceu a Princesa. Nutria um verdadeiro sentimento por ela. Mas sabia colocar-se em seu lugar. Aparecia apenas nas ocasiões especiais para ver sua antiga amiga de longe, entoando canções com sua majestosa voz.
A Princesa definhava mais e mais, e o médico real, após uma última avaliação, relatara ao Rei que sua filha não passaria do dia seguinte.
Nessa mesma noite, o jovem amigo da Princesa teve um sono irrequieto. E entre vários pesadelos, nos quais sua amada o abandonava e ia para outro mundo, sonhou com uma senhora de verde que se apresentara como a Rainha de Limão. A senhora disse-lhe palavras bonitas, e disse que ele precisava acordar e ir ao castelo salvar a Princesa.
O jovem de apenas 19 anos acordou perto do amanhecer, vestiu-se e correu para o castelo. Lá chegando, não o deixaram vê-la, pois estava muito doente. Mas não era rapaz de desistir fácil. Escalou as paredes da torre do castelo e alcançou a varanda de seu quarto, com a ajuda de uma corda. Não acreditou na cena que viu: a Princesa estava cadavérica, com os olhos fundos e semi-adormecida. Fitou-a intensamente, mas seus olhos estavam fechados. E não parecia que iam abrir novamente. Nesse momento, esbarrou em um jarro, fazendo-o cair e atraindo os guardas do castelo, que logo entraram e tentaram levar embora o plebeu. Mas ele resistiu e, ao se soltar, caiu de joelhos de frente ao leito da Princesa. Aproveitou o ensejo e beijou ternamente seus lábios. Os olhos da Princesa abriram delicadamente, e, enquanto os guardas arrastavam seu amigo para fora, a aia pôde notar uma mudança súbita na aparência da Princesa de Limão. Sua pele ganhou uma tonalidade rosada, as olheiras desapareceram, seus cabelos ganharam nova vida, seus olhos novo brilho. Até mesmo sua compleição parecia mais robusta que há um minuto atrás.
Então a Princesa gritou para que os guardas o deixassem e, olhando em seus olhos, sorriu e, imediatamente, começou a entoar uma canção.
A Princesa e seu amigo de infância vieram a se casar em uma semana. Desse dia em diante, todos os dias ela cantava, na varanda do castelo, para todos que se interessassem por ouvir. O Rei faleceu alguns anos depois, e o casal governou o Reino de Limão com bondade e sabedoria. E viveram felizes para sempre...

FIM


(conto escrito como presente de aniversário para Lady Lemon)

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