Pedi a Angela que solicitasse ao sr. Hughes para alugarmos o prédio dele como sede, e entrei na minha sala para ver os e-mails. Minha eficiente secretária, que sempre madrugava no trabalho, tinha me enviado uma mensagem com a agenda de entrevistas da manhã.
09:00 - William Hughes
10:00 - sra. e srta. Manilow
Eram 8:15, então pedi que Angela me pusesse em contato com o pessoal da perícia. Ela ligou pro celular de Charles e transferiu pra mim.
- Paul.
- Charles, você e Joe foram fazer a perícia no aquário?
- Estamos aqui, acho que em uma hora podemos te dar alguma coisa. Mas tenho notícias a você sobre a outra vítima.
- Você conseguiu obter a causa da morte?
- Sim. Foi difícil, quase não dormi essa noite, mas cheguei a uma conclusão.
- Insuficiência respiratória? Parada cardíaca?
- Antes fosse. Ela foi envenenada. E por uma substância não-identificada. Nenhum dos resíduos encontrados é letal. A pessoa que fez o veneno provavelmente tem avançados conhecimentos químicos, pois obteve algo novo, ou desconhecido. O veneno agiu de forma lenta, então ela já estava envenenada quando ele abriu o abdômen, mas só morreu depois disso, de falência de alguns órgãos vitais, como fígado e rins. Enviei amostras para um amigo mais experiente, veremos se ele esclarece a questão.
- Certo. E Joe identificou a garota?
- Sim, Julia Edwards Grynspan, 15 anos.
- Ok. Assim que tiverem notícias da segunda vítima, me comuniquem.
Pedi que Angela obtivesse a ficha da garota e comunicasse aos pais do ocorrido, além de requisitá-los para depoimento, já na nossa sede de operações.
Após alguns instantes, Angela comunicou que o sr. Hughes estava na delegacia. Eu disse que ele podia entrar.
- Bom dia, sr. Hughes. Sente-se, por favor. Meu nome é Paul Rocket, e sou o responsável pelo caso.
William Hughes tinha 55 anos e possuía alguns imóveis, que alugava de maneira informal para diversas pessoas, por tempos variados.
- Quero que o senhor me conte quem alugou aquele seu imóvel e que contatos teve com a pessoa.
- Foi um homem chamado James Joyce. Ele me telefonou e disse que tinha visto meu imóvel e a placa com meu número e queria alugar por alguns meses. Marcamos de nos encontrar num bar nas proximidades do edifício, ele pegou as chaves e me deixou pago em dinheiro por três meses.
- Como ele era? Quero que me diga tudo que se lembrar a respeito.
- Bem, era um senhor de idade, quase careca. Tinha apenas uns tufos de cabelos brancos na parte de trás. E andava com dificuldade, apoiado em uma bengala. Tinha voz de quem é asmático, e tremia um pouco. Parecia bem fraco e adoentado.
- E o que o senhor pensou dele?
- Sr. Rocket, conversamos muito pouco, não mais que 5 ou 10 minutos. Tive apenas pena de um homem velho como aquele ter que subir toda a escadaria.
Nesse instante, o comunicador tocou.
- Sr. Rocket.
- Estou em depoimento, Angela.
- Eu sei, é que tem uma garota aqui, chama-se Josy Granger, e quer muito falar com o senhor. Está afobada e diz que é urgente.
- Ok, leve o sr. Hughes para o pessoal do retrato falado e mande a garota entrar.
Pedi ao sr. Hughes que falasse com Angela, e agradeci pela colaboração.
A srta. Granger entrou na minha sala soluçando.
- Acalme-se, srta. Granger.
- É que a garota morreu!!! E eu não fiz nada!! Nada!
- Calma! Que garota? Comece do início!
- Então, foi sexta-feira!
- O que foi sexta-feira?
- Eu lavo roupa, sabe, e estava estendendo alguns lençóis que a sra. Baggy tinha deixado pra lavar. E vi a moça entrando no aquário.
- Que moça?
- A moça que foi morta.
- A srta. viu ela entrando no aquário sexta?
- Então, eu tava estendendo os lençóis, e vi. Aquela loja tá desocupada há um tempão, e estranhei quando vi entrando a moça meio oriental, e ela estava acompanhada por um cara que me deu medo.
- Como era ele?
- Estava todo de preto, com as calças dobradas acima dos tornozelos. Parecia bem magro e não era muito alto. Usava um chapéu comum, um guarda-chuvas e estava descalço! Como alguém anda descalço naquele sol quente? Eu comentei com a sra. Baggy e ela disse que tem gente que é acostumada. Eu não sei não, pra mim é coisa de doido.
- Que horas eram?
- Antes do almoço. O almoço na casa da sra. Baggy é servido às 12:15 em ponto. O sr. sabe, ela gosta de tudo na hora.
- E você não viu o cara sair?
- Não, depois do almoço eu fui ajudar a Mimmy a lavar a louça. Na casa da sra. Baggy tem muita louça, aquele batalhão de gente! E eu tinha que esperar os lençóis secarem pra poder passar. Por isso fiquei ajudando a Mimmy, ela é tão fraquinha, nunca dá conta do serviço. E a sra. Baggy paga muito mal a coitada. Mas como eu ia dizendo, eu vi o tipo estranho e não fiz nada!
- Tudo bem, a srta. não tinha como saber. Muito obrigado, srta. Granger. Peça à minha secretária que a encaminhe pro retrato falado.
- Sim, senhor. O senhor é muito bondoso!
Que confusão! Eu tinha agora duas descrições distintas. Seria um grupo de assassinos? Algo não está encaixando bem aqui.


(inspirado na imagem acima, sugerida por Lucas Altamar)

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