O lugar era um completo caos. Caixas empilhadas, roupas bagunçadas por toda parte, muita poeira. Parecia inacreditável que há apenas alguns dias o sr. Brown teria dormido ali. A impressão que passava era de que fazia pelo menos seis meses que ninguém abria aquela porta. Era apertado, e não tinha banheiro próprio. Tinha alguns restos de comida numa micro-mesa no canto esquerdo. Alguns ratos se aproveitavam da falta de higiene do local. O policial ficou do lado de fora enquanto fiz uma pequena revista. Não encontrei nada que parecesse suspeito. Mesmo assim liguei para Angela, e pedi que ela logo movesse Joe para o local, com a finalidade de confirmar as impressões digitais e o DNA nos restos de comida.
Devolvemos a chave para sra. Mary, mas avisei que pela tarde viria um perito coletar alguns dados.
Eu e o policial fomos almoçar, por minha conta, e enquanto comia um sanduíche, pus-me a refletir.
Onde está o sr. Brown? Algo na minha intuição me diz que ele não tem relação com os crimes, mas as pistas apontam o contrário. Ele estava no edifício na proximidade do primeiro crime. Mas no segundo não foram encontradas suas impressões. Se ele foi descuidado no primeiro, o seria no segundo, não é? Não, a mente por trás desse mistério é mais perspicaz e elaborada que isso. O sr. Brown é uma pista falsa.
Enquanto eu deliberava, meu celular tocou. Era Angela.
- Sr. Rocket, um dos peritos em idiomas entrou em contato.
Angela me passou o que o catedrático tinha informado e fui à Universidade encontrar-me com ele, munido de algumas fotos das inscrições nas duas vítimas.
Lá chegando, achei uma secretária no Depto. de Línguas e indaguei sobre a sala do tal professor. Ela me disse que ele estava em aula, mas que eu poderia esperar em sua sala, e me conduziu ao local.
A sala ficava num corredor empoeirado e escuro no subsolo do edifício. A garota abriu com uma chave antiga uma pesada porta de madeira, acendeu uma lâmpada amarelada e pediu que eu esperasse ali.
Tão logo ela se afastou, pus-me a observar melhor aquela sala. Havia quatro longas estantes de livros, os quais perscrutei superficialmente com meus olhos. Exemplares em grego, em latim, inglês arcaico e alguns no que parecia ser sânscrito. Além das estantes, havia uma mesa com 6 cadeiras, de madeira antiga. Aliás, tudo naquele lugar era antigo, exceto um computador em uma escrivaninha. Na parede havia alguns quadros: uma viela escura sob forte chuva; um mostro atacando crianças; um casebre escondido em mata fechada; e... um quadro que me intrigou o suficiente para prender minha atenção por vários minutos. Não sei o que havia de especial nele, mas não pude deixar de admirar as cores intensas e a expressão na face da criança que estampava a moldura. Era uma franzina garotinha loira de vestido listrado azul e branco, carregando em suas mãos uma imensa chave. Ao seu redor, várias fechaduras reluziam num verde fosforescente, convidando-a a descobrir que segredos encerravam. No chão, de uma fechadura aberta, emergia o que parecia ser uma árvore distorcida. Numa segunda análise, desconfiei que dos ramos daquela árvore saíam as demais fechaduras, como se fossem seus frutos.
- Belo quadro, não? Gosto de chamá-lo "A garota e a chave", mas esse não é seu nome original.
- É verdade... que cores! Chamou-me a atenção. Presumo que o sr. seja...
- Isaac Rosenberg.
- Sou Paul Rocket. Minha secretária falou com o senhor há pouco.
- Oh! O policial. Algo relacionado a sânscrito, não é?
- Exato. O senhor sabe citar pessoas na cidade que escrevam em sânscrito?
- Meu jovem, não é um idioma comum. Creio que apenas eu e o professor Jacobs conhecemos a escrita a fundo.
- Compreendo... Podemos nos sentar?
- Claro, claro!
Sentamos em duas cadeiras da mesa no centro de sua sala.
- Duas garotas foram mortas e em seus corpos foi encontrada uma inscrição que parece ser em sânscrito.
Enquanto eu dizia essa frase, retirei da minha pasta algumas fotos em close das inscrições em ambas as garotas e as coloquei à sua frente. O homem pareceu-me assumir um semblante preocupado e após alguns minutos observando as fotos, colocou-as novamente na mesa, tirou os óculos e passou os dedos da mão direita nos olhos fechados, franzindo a testa, como se tivesse enfrentando uma situação difícil.
- Sim, é sânscrito.
- E o que significa?
- A tradução que talvez seja mais apropriada para essa palavra é "Obedeça".
- Obedeça?
- Sim, como uma ordem.
- Imagino que não faça idéia do que isso possa significar, correto?
- No momento não me recordo de nada. Mas posso fazer uma pesquisa para o senhor.
- Bem, agradeço sua colaboração, sr. Rosenberg. Se tiver algum sucesso, me procure. Minha secretária manterá contato.
- Pois não, senhor detetive.
Saí da Universidade mais encucado do que estava antes. O que queria dizer "Obedeça"? Como essa simples palavra pode se relacionar com dois assassinatos? E, acima disso, o quadro da menina com a chave insistia em permanecer na minha cabeça.
(inspirado na imagem acima, sugerida por Lucas Altamar)
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Aeeeeeee, Wolvie...
Ficou bem melhor de se acompanhar o conto por aqui (ao menos para aqueles que começaram a ter contato apenas com os capítulos mais recentes) e ficou bonito o blog. Gostei!! =) Um ótimo espaço para suas publicações literárias... que nenham muito mais estórias.
E vc nem avisa, neh? Encontrei o link por acaso no fotolog da Giuliana (e quase passo batido, depois eu parei e pensei: "ué, ele escreveu 'blogspot' no endereço? Humm... deixa eu ver esse negócio direito") e cá estou eu.
Ah... e por sinal, sou o PRIMEIRO a comentar por aqui. O que é que eu ganho??? Hehehehehehehehe...
Abraço!!!
Gilvan disse...
6 de outubro de 2007 às 12:32