A Balada das Ilhas Orkney

Autor: Elvis Rodrigues
Inspiração: Standing Stones, Loreena McKennitt (que por sua vez é baseada em uma poesia tradicional irlandesa)
Informação útil: As Ilhas Orkney são um pequeno arquipélago que pertence à Escócia, sendo situadas à nordeste da mesma.


Lembro-me bem de um peculiar acontecimento, muito tempo atrás, que me foi contado quando estive por uns dias conhecendo as Ilhas Orkney. Como grande parte das histórias bonitas, aquelas que lembramos à noite, antes de dormir, aquelas que contamos aos nossos filhos, as que realmente merecem fazer parte da nossa memória, essa história é sobre um romance entre dois belos jovens.
Era uma garota muito bonita, de longos cabelos dourados como o sol, olhos azuis como a imensidão do mar e bochechas rosadas, que lhe conferiam um ar de verídica inocência. Tinha então 18 anos e atraía os olhares e os desejos palpitantes dos corações de muitos jovens rapazes (e outros nem tão jovens assim) da ilha em que vivia, e de algumas das ilhas vizinhas também.
Do outro lado do lago morava um rapaz que a admirava secretamente desde que eram crianças. Era um rapaz direito, ajudava o pai na pescaria. Mas ele não tinha coragem de contar dos seus sentimentos a ela, uma vez que havia muitos outros rapazes interessados, rapazes de melhores condições e mais bem apessoados e que, com certeza atrairiam mais os olhares dela. Ele não tinha esperanças. Mas ainda assim contentava-se em ir vê-la de vez em quando, nas festas. Ir vê-la significava para ele manter distância, mas não desgrudar os olhos daquela bela garota de olhos azuis.
Então, numa dessas ocasiões, na véspera de Natal, os aldeões todos reunidos para dançar ao redor das fogueiras, como manda a tradição, e ele a observá-la, algo diferente acontece. A garota resolve se aproximar dele e iniciar uma conversa. Inicialmente ele ficou tímido, mas ela exalava um perfume doce que o inspirava confiança. E ele resolveu chamá-la para dar um passeio pelas pedras.
Num braço de terra invadindo o mar, havia um círculo de pedras, semelhante àquele encontrado na Inglaterra. Os habitantes acreditavam que aquelas pedras tinham propriedades mágicas, e a disposição circular delas era fundamental para manter essa crença. Muitos rituais eram ali perpetrados, na maior parte das vezes pelos anciões responsáveis, mas algumas vezes por jovens inesperientes em madrugadas sombrias.
Os dois jovens foram então passear ao redor daquelas pedras. Inebriado por aquele doce odor e pela beleza radiante de sua musa, o rapaz segurou a sua mão e proferiu as mais belas declarações de amor. Aquelas que tinha decorado desde o início da adolescência. Também aquelas que tinha composto nas noites de solidão. E ainda outras que surgiram inesperadamente no momento mágico que estava acontecendo. Para sua surpresa, a garota segurou firme a sua mão e também declarou palavras de amor. O casal se abraçou forte.
Conversaram naquela noite sobre os mais variados assuntos, mas sobretudo fizeram planos para o futuro. Se amavam e queriam casar-se. Combinaram dele visitar o pai dela e pedir a sua mão. Antes desse dia, ela contaria tudo à sua mãe, que com certeza a apoiaria. Ia ficando tarde, então foram caminhando de volta à festa. O rapaz queria ir com ela, mas ela disse que seria melhor não chegar acompanhada de um rapaz. Diria ao pai que estivera sozinha. E então, numa ponte solitária, ele puxou-a para perto e beijou seus doces lábios. Abraçaram-se mais uma vez e prometeram se encontrar novamente dali a dois dias. Enquanto a garota se afastava, um pensamento triste percorreu a mente do rapaz, de que poderiam nunca mais se ver. Mas logo ele o varreu da sua cabeça e, quando ela não passava de um vulto, virou-se e dirigiu-se à sua casa, a casa que ele não mais veria.
Veja bem, estou contando essa história da forma que me foi contada, então você deve decidir você mesmo sobre a veracidade destas palavras. Não tenho nada a ver com isso.
O rapaz caminhava alegremente em direção ao seu lar, quando uma sombra se projetou sobre ele, carregando uma adaga reluzente e afiada, que velozmente perfurou seu coração, fazendo seus gritos perturbarem a silenciosa madrugada de Natal.
Do outro lado do lago, a garota estava quase chegando em casa quando uma profunda tristeza se fez sentir em seu coração e ela foi acometida por uma irrefreável vontade de chorar. Ajoelhou-se ao lado de uma árvore e deixou que o pranto escorresse por sobre sua face, sem saber do que se tratava. Então algo lhe impeliu a olhar para trás, e seu amor ali estava, com uma aparência de imperturbável tranquilidade, apontando com seu dedo a luz das estrelas. Seus olhos brilhavam estranhamente e com um sorriso afetuoso, ele se desfez, lentamente abandonando-a. Ela não pôde dizer nada, pois seus olhos não acreditavam no que tinham visto.
Se virou e correu para casa. Jamais comentou dessa história com seus pais. Ela sabia que seu amor estava morto e tinha vindo apenas se despedir. Daquele dia em diante, a donzela seguiu a sua vida numa eterna sombra, sem jamais sorrir novamente, até que chegou o seu dia e ela foi, de braços abertos, a um lugar iluminado encontrá-lo.



Letra da música que inspirou o conto:
STANDING STONES

Words traditional, arranged by Loreena McKennitt
Music by Loreena McKennitt


In one of these lonely Orkney Isles
There dwelled a maiden fair
Her cheeks were red, her eyes were blue
She had yellow, curling hair

Which caught the eye and then the heart
Of one who could never be
A lover of so true a maid
Or fair a form as she

Across the lake in Sandwick
Dwelled a youth she held most true
And ever since her infancy
He had watched those eyes so blue.

The land runs out into the sea
It's a narrow neck of land
Where weird and grim the Standing Stones
In a circle there they stand.

One bonny moonlit Christmas Eve
They met at that sad place
With her heart in glee and the beams of love
Were shining on her face
When her lover came and he grasped her hand
And what loving words they said
They talked of future's happy days
As through the stones they strayed.

They walked toward the lovers' stone
And through it passed their hands
They plighted there a constant troth
Sealed by love's steadfast bands
He kissed his maid and then he watched her
That lonely bridge go o'er
For little, little did he think
He wouldn't see his darling more.

Standing stones of the Orkney Isles
Gazing out to sea
Standing stones of the Orkney Isles
Bring my love to me

He turned his face toward his home
That home he did never see
And you shall have the story
As it was told to me
When a form upon him sprang
With a dagger gleaming bright
It pierced his heart and his dying screams
Disturbed the silent night.

This maid had nearly reached her home
When she was startled by a cry
And she turned to look around her
And her love was standing by
His hand was pointing to the stars
And his eyes glazed at the light
And with a smiling countenance
He vanished from her sight.

She quickly turned and home she ran
Not a word of this was said
For well she knew at seeing his form
That her faithful love was dead
And from that day she pined away
Not a smile seen on her face
And with outstretched arms she went to meet him
In a brighter place.

Standing stones of the Orkney Isles
Gazing out to sea
Standing stones of the Orkney Isles
Bring my love to me
Standing stones of the Orkney Isles
Gazing out to sea
Standing stones of the Orkney Isles
Bring my love to me

4 comentários:

Linda essa historia, adoro esse tipo de lenda ou contos...
Adoro as musicas da lorenna e ñ sabia que essa era desta historia....

25 de junho de 2008 às 18:23  

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

25 de junho de 2008 às 18:23  

Mas que coisa, um comentário anônimo, e depois de tanto tempo que este conto foi publicado. =O

25 de junho de 2008 às 20:50  

Genial dispatch and this fill someone in on helped me alot in my college assignement. Thanks you as your information.

10 de agosto de 2010 às 17:41  

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